Uma entorse de tornozelo é uma lesão ligamentar (dos ligamentos) que ocorre, habitualmente, após uma torção no tornozelo. Os ligamentos do tornozelo são estruturas elásticas que permitem manter a articulação na sua posição correta. Os ligamentos, que constituem os estabilizadores laterais do tornozelo, são os principais responsáveis pela estabilidade da articulação, nomeadamente, em movimentos nos extremos das amplitudes articulares. Em condições normais, os ligamentos, como estruturas elásticas que são, distendem (esticam) até ao seu limite, regressando, de seguida, à sua posição inicial. Todos os ligamentos possuem uma amplitude específica de movimento e limites que lhes permitem manter as articulações estabilizadas. O entorse ocorre quando o ligamento é forçado para lá da sua normal capacidade. No tornozelo, podemos identificar 2 ligamentos: complexo ligamentar externo e ligamento lateral interno.
A lesão, geralmente, ocorre quando alguém, acidentalmente, mobiliza o tornozelo de forma anormal, ou seja o tornozelo é “torcido”. São exemplo de movimentos anormais a torção do pé (torcer o pé), rotações e rolamentos do pé. Este movimento pode levar os ligamentos a estirarem (fazer uma distensão ou esticar para além do normal, criando problemas na sua função) ou mesmo, nos casos mais graves, a romper (rasgar). Uma lesão onde ocorre o rompimento dos ligamentos (rotura) é mais grave quando comparada com uma lesão onde ocorre apenas estiramento dos ligamentos, conforme veremos adiante com maior detalhe.
Existem essencialmente dois tipos de entorse do tornozelo. Os entorses mais frequentes são os que ocorrem com inversão do pé, que se define por forçar a articulação para o lado de dentro (“o pé está preso ao solo pela carga e o corpo roda para fora”). Por sua vez, em casos mais raros podem ocorrer entorses em eversão do pé (mecanismo contrário ao de inversão).
A lesão ligamentar externa (do ligamento lateral externo ou ligamento da “parte de fora”) é a mais frequente e a maioria das vezes ocorre de forma incompleta, ocorrendo maioritariamente no entorse por inversão.
Graus de entorses do tornozelo
Uma entorse de tornozelo pode variar de ligeira a grave, dependendo de quão danificado está o ligamento e de quantos ligamentos foram afetados. Numa entorse ligeira ocorre dor e edema (inchaço), no entanto, geralmente sente-se estável, e pode-se caminhar com pouca dor. Uma entorse um pouco mais grave pode incluir contusões e sensibilidade ao redor do tornozelo, sendo doloroso ao caminhar.
Numa entorse de tornozelo grave, o tornozelo é instável e pode parecer "bamboleante". O doente não consegue andar, porque o tornozelo está instável e pode ser bastante doloroso.
Após o exame, o seu médico irá determinar o grau da sua entorse que lhe permitirá traçar um plano de tratamento. A classificação da entorse do tornozelo é feita de acordo com a gravidade dos danos nos ligamentos, a saber:
Entorse de Grau 1 (Ligeira)
-Estiramento leve e roturas microscópicas das fibras dos ligamentos;
-Alguma sensibilidade e edema (inchaço) em redor do tornozelo.
Entorse de Grau 2 (Moderada)
-Ruptura parcial do ligamento;
-Sensibilidade moderada e edema ao redor do tornozelo;
-Se o médico mover o tornozelo em determinadas posições, há um movimento anormal da articulação do tornozelo.
Entorse de Grau 3 (Grave)
-Ruptura completa (ou total) do ligamento;
-Sensibilidade e edema significativos ao redor do tornozelo (dores muito fortes e tornozelo muito inchado) que surge de imediato;
-Se o médico puxar ou empurrar a articulação do tornozelo em certos movimentos, ocorre desequilíbrio substancial.
Entorse do tornozelo - sinais e sintomas
Na maioria das entorses, sente-se imediatamente dor no pé, que pode ser de leve a muito intensa, no local do entorse. Frequentemente, o tornozelo começa a “inchar” (edema) imediatamente e pode surgir equimose local (tornozelo negro) e algum derrame articular (liquido no tornozelo). A área do tornozelo, geralmente, é sensível ao toque e a dor aumenta com os movimentos.
Em entorses mais severas, pode ouvir e/ou sentir algo “a rasgar” junto com um estalido. A dor é imediata e forte após o entorse, não conseguirá caminhar ou até exercer força no pé (pôr o pé no chão ou “pisar”). Assim, quanto maior a dor e o edema (inchaço), mais grave será a lesão e consequentemente mais demorada será a fase de reabilitação.
A extensão do edema (inchaço) e a intensidade da dor no pé variam proporcionalmente à gravidade da entorse. Na maioria das entorses de menor gravidade (grau I), as queixas possuem uma duração entre 2 a 3 dias, até cerca de duas semanas nas entorses de maior gravidade (grau II e grau III). O tempo de recuperação para curar um entorse pode ir de semanas a meses e depende da gravidade da lesão e do tratamento instituído. Veja mais informação em tratamento.
Entorse do tornozelo - causas
Uma entorse de tornozelo ocorre, frequentemente, quando o pé torce ou rola, forçando a articulação do tornozelo a sair fora da sua posição normal. Nos desportos que exigem movimentos repentinos e nos extremos de amplitude (futebol, futsal, basquetebol, andebol, atletismo, etc.) podem ocorrer entorses mais facilmente. Contudo, os entorses também podem ocorrer acidentalmente no dia-a-dia, quando a pessoa coloca “mal o pé no chão”, etc. O uso de calçado inadequado como, saltos altos, sapatos muito largos, entre outros, podem ser um fator de risco para a ocorrência de entorses.
Os desequilíbrios constituem um dos fatores de risco para a entorse do tornozelo. Aqueles que possuem “músculos fracos” e fazem esforços ou atividade física sem treino de adaptação prévio estão mais sujeitos a desenvolver entorses.
Os entorses do tornozelo podem ocorrer em qualquer idade, sexo e lateralidade (pé esquerdo, ou direito). Os entorses são mais frequentes nos praticantes de desporto. As pessoas que já tiveram um entorse severo no passado, também estão mais suscetíveis a novos entorses.
Entorse do tornozelo - diagnóstico
O diagnóstico da entorse do tornozelo é feito pelo médico ortopedista (especialista em ortopedia) através da história clínica, do exame médico e recorrendo a possíveis meios complementares de diagnóstico (exames de diagnóstico). O seu médico irá perguntar-lhe como ocorreu a lesão e se já teve lesões prévias.
O médico pode solicitar a realização de exames para ter a certeza de que não existem fraturas ósseas (não existem ossos partidos) no tornozelo ou no pé e perceber a extensão das lesões ligamentares. Os exames, habitualmente, realizados são os seguintes:
-Raio X: Os raios X fornecem imagens de estruturas densas, como o osso. O médico pode pedir raios-X para descartar fraturas no tornozelo ou pé. Um osso fraturado pode causar sintomas semelhantes de dor e edema (inchaço);
-Raio X de stress: Além de raios X simples, o seu médico também pode pedir raios X de stress. Estas radiografias são executadas enquanto o tornozelo está a ser empurrado em diferentes posições. Estes exames permitem identificar se o tornozelo está a mover-se anormalmente devido a ligamentos lesionados;
-Ressonância magnética (RM): o seu médico pode solicitar uma ressonância magnética se suspeitar de uma lesão muito grave nos ligamentos, danos na cartilagem ou osso da superfície da articulação, ou outro problema.
-Ecografia (ultrassom): A ecografia permite que o médico observe os ligamentos diretamente enquanto move o tornozelo, permitindo determinar a quantidade de estabilidade que o ligamento fornece.
Para além dos exames atrás mencionados, o médico ortopedista poderá em alguns casos, achar pertinente executar outros meios auxiliares de diagnóstico.
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Entorse do tornozelo - tratamento
O tratamento da entorse do tornozelo deve ser realizado de acordo com a gravidade da lesão.
Habitualmente, em entorses de grau 1 é suficiente realizar os seguintes tratamentos em casa, após diagnóstico e orientação médica:
-Repouso - deve realizar repouso articular do tornozelo, não caminhando sobre ele. Utilizando muletas, se necessário, para permitir marcha protegida com carga parcial.
-Gelo - fazer a aplicação de gelo ajuda a reduzir a dor e o edema (desinchar). Não coloque o gelo diretamente na pele (use um pano fino, como um lenço ou uma fronha de almofada, entre a bolsa de gelo e a pele). Não faça gelo por mais de 20 minutos de cada vez para evitar uma ulceração produzida pelo frio.
-Compressão - pode ajudar a controlar o edema, bem como a imobilizar e suportar a lesão. A compressão pode ser feita através de uma ligadura na fase inicial e posteriormente através da utilização de um pé elástico ou meia elástica. A compressão ajuda a controlar o edema (inchaço) e fornece estabilidade, enquanto os ligamentos cicatrizam.
-Elevar - eleve o pé reclinando-o e apoiando-o para que fique acima da cintura. Pode deitar-se e colocar o pé sobre umas almofadas para ficar mais alto.
Para uma entorse de grau II, devem seguir-se as indicações anteriores, dando mais tempo para a recuperação. Caminhar pode ser difícil durante este período e o seu médico vai recomendar utilização de muletas. Na fase inicial é importante apoiar o tornozelo e protegê-lo de movimentos repentinos, podendo ser necessário imobilizar com uma tala o tornozelo.
Uma entorse de grau III coloca em risco a estabilidade permanente no tornozelo. Para os entorses graves do tornozelo e de modo a permitir maior estabilidade da articulação, o seu médico pode considerar benéfico realizar uma imobilização gessada (aplicar gesso na perna e pé) ou usar uma “bota walker” que permite uma maior estabilidade do tornozelo.
Nestes casos (entorse de grau 3), tal como nos anteriores, raramente é necessário tratamento cirúrgico inicial, mesmo em atletas de competição.
Os medicamentos (ou remédios) anti-inflamatórios não esteróides (AINEs), como o ibuprofeno e o naproxeno, podem ajudar aliviar a dor e reduzir o edema (inchaço) seja qual for a gravidade do entorse e complementar o tratamento caseiro anteriormente descrito. O doente pode tomar os anti-inflamatórios em comprimidos ou, então, aplicar pomada na zona afetada. Este tratamento medicamentoso deve ser sempre prescrito pelo médico e realizado de acordo com a receita médica. O doente não deve em caso algum automedicar-se.
Alguns entorses exigirão tratamento de fisioterapia adicional ao tratamento indicado anteriormente. Os exercícios de reabilitação são usados para prevenir rigidez, aumentar a força do tornozelo e evitar problemas crónicos. O seu médico pode encorajá-lo a colocar algum peso no tornozelo enquanto estiver protegido, isso pode ajudar no processo de reabilitação. O tratamento fisioterapêutico, habitualmente, inclui:
-Numa fase inicial, para evitar a rigidez, o seu médico ou fisioterapeuta irá recomendar exercícios que envolvem movimentos de amplitude controlados do seu tornozelo, sem resistência.
-Assim que possa suportar peso sem aumentar a dor ou o edema, serão adicionados ao seu plano exercícios para fortalecer os músculos e os tendões na frente e na face posterior da perna e do pé. Os exercícios na água poderão ser usados se os exercícios de fortalecimento de solo, tais como elevação dos dedos dos pés, forem muito dolorosos. Exercícios de resistência são adicionados assim que tolerados.
-Os exercícios de resistência e agilidade podem ser iniciados, assim que já não sinta dor. Correr “em oitos” cada vez mais pequenos é excelente para agilidade e força da parte posterior da perna e do tornozelo. O objetivo é aumentar a força e a amplitude de movimento à medida que o equilíbrio melhora ao longo do tempo.
-Finalmente, podem ser realizados exercícios de propriocepção (equilíbrio). Um mau equilíbrio, geralmente, leva a repetir entorses e contribui para a instabilidade no tornozelo. Um bom exemplo de um exercício de equilíbrio é estar apoiado no pé afetado, com o pé oposto erguido e os olhos fechados. As pranchas de equilíbrio também são, frequentemente, utilizadas nesta fase da reabilitação.
-Nos desportistas, para possibilitar uma recuperação mais rápida e o retorno à atividade desportiva, podem ser prescritos programas específicos de reabilitação, mas sempre com o cuidado de prevenir novas entorses.
Os entorses possuem habitualmente bom prognóstico. Com tratamento adequado, a maioria dos pacientes pode retomar a sua atividade diária com total normalidade. O sucesso do tratamento depende do compromisso do paciente com os tratamentos instituídos e com os exercícios de reabilitação. A reabilitação incompleta após uma entorse é a causa mais frequente de instabilidade crónica do tornozelo.
Apenas em casos raros, é necessário realizar tratamento cirúrgico, como veremos de seguida.
Entorse do tornozelo - cirurgia
A indicação para cirurgia (ou operação) no tratamento da entorse do tornozelo é pouco frequente. A cirurgia é reservada para lesões que não respondem ao tratamento médico e para os pacientes que sofrem instabilidade persistente no tornozelo após meses de reabilitação.
Na atualidade, as cirurgias são minimamente invasivas e realizadas por técnicas de artroscopia. Na cirurgia artroscópica, o médico usa um pequeno instrumento cirúrgico que possui acoplada uma pequena câmara (chamado artroscópio) para ver dentro da articulação do tornozelo. Com a utilização de instrumentos cirúrgicos adequados pode proceder à remoção de fragmentos soltos de osso, cartilagem, ou partes do ligamento que podem ser apanhados na articulação e realizar a reconstrução dos ligamentos através de pontos ou suturas. Em alguns casos, o médico poderá reconstruir o ligamento lesionado, substituindo-o por um enxerto de tecido obtido de outros ligamentos e/ou tendões encontrados no pé e ao redor do tornozelo.
Normalmente, há um período de imobilização após a cirurgia. O seu médico pode aplicar gesso ou uma ortótese (bota protectora) para preservar o ligamento reparado ou reconstruído. Certifique-se que segue as instruções do seu médico sobre a forma e o tempo de uso do dispositivo de proteção.
O tempo de recuperação após a cirurgia depende da extensão da lesão e da intervenção realizada. A reabilitação tem como objetivo restaurar a força e a amplitude de movimento de forma a permitir ao doente voltar à função pré-lesão, podendo demorar semanas a meses.
Entorses de tornozelo crónicas
Após uma entorse de tornozelo, o doente pode continuar a progredir a lesão caso não tenha efetuado tratamento adequado e tenha sido dado tempo suficiente para os ligamentos recuperarem a sua função completamente. Pode ser difícil para os pacientes saberem se uma entorse está resolvida, uma vez que mesmo um tornozelo com lesão crónica pode ser altamente funcional, porque os tendões sobrepostos ajudam a dar estabilidade e movimento.
A propriocepção anormal - uma complicação comum nas entorses do tornozelo - também pode levar a entorses repetidas. Pode haver desequilíbrio e fraqueza muscular que provoca nova lesão. Os entorses de repetição podem criar instabilidades no tornozelo, uma sensação do tornozelo inseguro e dor crónica.
Se a dor continuar por mais de 4 a 6 semanas, podemos estar perante uma entorse de tornozelo crónica. Nestes casos, são de evitar os fatores de risco precipitantes da lesão: como praticar desportos de risco e caminhar em superfícies irregulares.
Nunca é de mais referir que um tratamento atempado e adequado são de primordial importância para evitar lesões crónicas.
Como prevenir a entorse do tornozelo?
Para evitar futuras entorses, preste atenção aos sinais de alerta do seu corpo para abrandar quando sentir dor ou fadiga e mantenha-se em forma com bom equilíbrio muscular, flexibilidade e força.
A prevenção das entorses do tornozelo passa por um conjunto de medidas, a saber:
-Fazer aquecimento antes do exercício;
-Realizar exercícios de fortalecimento muscular antes de praticar qualquer desporto;
-Desacelerar ou interromper atividades quando se sente cansado;
-Usar calçado resistente e de qualidade;
-Evitar o uso de sapatos de salto alto;
-Prestar atenção às superfícies em que caminha.
fonte: Saúde e Bem Estar